Por Danilo Barbosa, Diretor de Marketing e Produtos da Way2 | 18 abril, 2022 | 0 Comentário(s)
Como IoT, inteligência artificial e Xaas impactam na gestão de energia
Entenda como realizar uma gestão de energia eficiente com IoT, inteligência artificial e XaaS, tecnologias que possibilitam redução de custos em um cenário de alta nas tarifas de energia elétrica
As tarifas de energia subiram muito acima da inflação nos últimos anos. De acordo com a Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel), em 2021 a conta de energia elétrica teve alta de 114%, frente à 48% da inflação registrada no mesmo período. Neste contexto, a busca por alternativas que proporcionem uma gestão de energia menos custosa e mais eficiente se tornou necessária.
A boa notícia é que, em poucos momentos da história, a procura por competitividade imediata esteve tão alinhada à sustentabilidade. Além de uma boa avaliação no modelo de contratação e nos pagamentos, as principais alternativas para redução dos custos envolvem ações de eficiência energética.
Trocas de equipamentos por versões mais modernas, gestão de energia focada em dados e uso de incentivos comportamentais que envolvam práticas racionais no uso da energia são alguns exemplos dessas ações. A Geração Distribuída, modalidade em que fontes próprias de energia renovável, como a solar, são conectadas diretamente às unidades consumidoras, locais ou com compensação remota, também tem incentivado esse cenário.
Uso da tecnologia para otimizar a gestão de energia
Em um cenário de predominância de uma única fonte de energia elétrica – no Brasil, as hidrelétricas – torna-se necessário buscar alternativas para a geração e distribuição de energia. E, neste cenário, novas tecnologias passam a ocupar um espaço cada vez maior, principalmente para proporcionar redução de gastos com energia.
No entanto, essa economia precisa ser auferida e gerenciada, principalmente no contexto em que o consumo é distribuído em muitas unidades, espalhadas por vários estados e conectados em diversas distribuidoras do país. Esta gestão se torna cada vez mais viável com duas tendências tecnológicas fundamentais para a transformação digital em qualquer indústria: a Internet das Coisas – IoT, na sigla em inglês (Internet of Things) – e a Inteligência Artificial.
IoT: conectividade e medidores inteligentes
As redes de IoT prometem democratizar a conectividade: o acesso à informação abundante, mesmo que oriunda de fontes distribuídas. Cada veículo, cada cabeça de gado, cada eletroeletrônico poderá enviar informações de seu estado, tornando tudo mais fluido e rápido. Com o consumo e gestão de energia não é diferente, o movimento começou lentamente e vem ganhando ritmo.
Nos EUA, aproximadamente metade dos consumidores de baixa tensão já contam com medidores inteligentes e infraestrutura de comunicação. Enquanto a informação de cada casa ou tomada aguarda o futuro da rede, os comércios e indústrias de pequeno porte já começam a usufruir de opções mais baratas de conectividade.
Redes privadas de curto alcance permitem a comunicação interna nas plantas industriais. Novos players e arquiteturas, como a Sigfox, oferecem planos para aplicações de baixíssimo consumo de dados e prometem cobertura cada vez mais ampla. A própria conectividade wifi pela internet hoje é abundante no ambiente comercial. E mesmo planos de rede das operadoras de celular, já tradicionalmente aplicados, tendem a se adaptar ao mercado de IoT com novas opções tecnológicas e comerciais.
Inteligência para gestão energética baseada em dados
A Inteligência Artificial pega carona na abundância de informação. As técnicas de maior sucesso nesta tecnologia, ou mais precisamente nesta suíte de tecnologias que classificamos como IA, são justamente aquelas que usam dados para construir modelos preditivos.
Na gestão de energia, uma tendência de crescimento da demanda pode gerar um alerta para o cliente com comportamento atípico, evitando multas por ultrapassagem. Mas pode não gerar o mesmo alerta para outro, que tem controlador automático da demanda e receberia um alarme falso. Portanto, a identificação de possibilidades de economia acaba levando em consideração informações de clima, o número de funcionários de uma instalação e a tendência na sua região ou nas empresas de mesmo perfil.
Xaas para alocação de riscos e mais eficiência na gestão de energia
O universo do software inaugurou a tendência SaaS (Software as a Service) e as seguintes: IaaS (Infrastructure as a Service) PaaS (Platform as a Service), RaaS (Robot as a Service), outro SaaS (Solar as a Service) e XaaS (Everything as a Service), conhecida como “economia de recorrência”, em que tudo é pago em mensalidades, sem necessidade de grandes investimentos pelos consumidores de qualquer solução.
Porém, a tendência não se limita a uma mera mudança na forma de pagamento ou financiamento. O ponto crucial é, na realidade, a alocação de riscos, que passa a incidir sobre quem adota controles mais eficazes, além de possibilitar uma gestão de energia mais assertiva. Para dar um exemplo associado às tendências tecnológicas já citadas, o modelo recorrente viabiliza que o risco de inutilização de um equipamento de IoT fique no fornecedor da solução.
Com o equipamento diluído na mensalidade, o fornecedor assume a responsabilidade de se manter atualizado. Se a obsolescência de seus equipamentos gerarem custos para o consumidor, ele irá em pouco tempo trocar por uma tecnologia mais moderna e barata.
O risco da manutenção é outro que a tendência XaaS aloca no fornecedor, se ele tem equipamentos mais confiáveis, tem menos manutenção e aufere os ganhos da eficiência.
A tendência é indissociável do aumento no ritmo de evolução tecnológica e ganha espaço mesmo nas grandes corporações ou segmentos habituados a investir em soluções internas, como as distribuidoras de energia.
Como a regulação pode viabilizar oportunidades ao consumidor?
O fato da gestão de energia se apoiar tanto em dados e informações, faz com que detalhes na regulação façam grande diferença no dia a dia dos consumidores. Qualquer impacto no custo pode excluir milhares do acesso à informação e às melhores práticas de gestão energética. Por exemplo, para consumidores participantes do mercado livre, os dados de consumo coletados pelas distribuidoras são disponibilizados em interfaces programáveis (APIs) pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) – de forma que podem ser automaticamente integrados a sistemas de gestão de energia ou contratos.
Já os consumidores cativos, mesmo que a distribuidora realize sua telemedição, tem acesso limitado a esta informação.
Em alguns casos pode ser disponibilizada no site da empresa somente após o faturamento e limitada ao download manual, o que impossibilita integrações e ganhos de eficiência. Como a regulação garante acesso aos medidores, estes consumidores podem instalar um segundo sistema de comunicação para ter acesso ao mesmo dado.
Mas isto evidentemente tem maior investimento e ainda é economicamente inviável para boa parte das unidades consumidoras menores, que não contam com a mesma regulação que garante acesso ao medidor, portanto, acabam tendo como única opção instalar um sistema de medição totalmente paralelo, o que é ainda mais caro. Em ambos os casos, a queda nos custos da eletrônica e as redes IoT irão viabilizar a aplicação, mas a regulação pode acelerar ou atrasar o processo em vários anos.
São detalhes técnicos, mas com alto impacto na viabilidade das soluções. Mercados totalmente competitivos acabam gerando incentivos econômicos para normatizar até mesmo estes temas. É o caso do Open Banking, como é chamada a tendência de abertura dos dados para integrações com terceiros, iniciada pelos bancos digitais e já largamente adotada pela indústria em geral.
No setor elétrico, a natureza regulada das distribuidoras exige uma atenção da ANEEL a estes detalhes e às tendências em outras indústrias para que as mesmas oportunidades de eficiência possam ser viabilizadas com ajustes visíveis na regulação.
Gestão energética mais tecnológica e eficiente
Novas tecnologias de IoT, Inteligência Artificial e modelos de negócio inovadores, viabilizados por uma regulação antenada e progressista, tem feito a gestão de energia se tornar uma das alavancas de competitividade para os negócios no Brasil.
Muitos passos já foram dados, mas ainda há muito a ser feito. Nossa abundância de recursos energéticos renováveis e a inventividade do brasileiro para produzir soluções econômicas e limpas tem tudo para gerar prosperidade e refletir também em maior competitividade do país internacionalmente.