Por Alice Buzanelo, Analista de Customer Marketing, e Frederico Perillo, Gerente de Produtos. | 25 março, 2025 | 0
O futuro do setor elétrico sob o olhar nórdico: lições da Finlândia
Entre os dias 15 e 21 de março de 2025, uma comitiva da Way2 desembarcou na Finlândia com uma missão clara: entender, na prática, como um dos mercados de energia mais maduros do mundo opera, inova e se organiza.

A jornada incluiu visitas a instituições de referência como VTT, Aalto University, Nord Pool, Wartsila, Fingrid, o Ministério da Economia e Trabalho e a Finnish Energy — além da participação na prestigiada Energy Week, evento que reúne os principais debates do setor energético europeu.
Neste artigo, compartilhamos os principais insights da missão, com foco em temas que estão ganhando relevância no Brasil: abertura de mercado, digitalização e inovação aplicada.
Um mercado livre e digital por natureza
Na Finlândia, o mercado livre de energia é uma realidade consolidada há 27 anos. Desde 1998, 100% dos consumidores finlandeses têm liberdade para escolher sua comercializadora de energia. Mais do que uma decisão política, trata-se de uma estrutura sustentada por tecnologia, regulação clara e um ecossistema de dados integrados.
Diferentemente do Brasil, onde a abertura do mercado ainda está em curso, o modelo finlandês demonstra como uma abordagem orientada ao consumidor pode funcionar com excelência. Embora não seja uma exigência para um mercado totalmente livre, a presença massiva de medidores inteligentes (smart meters) ajuda na penetração da tecnologia no mercado e nas ações pelo lado da demanda.
Na Finlândia existe uma obrigatoriedade determinada em lei que prevê que 100% das unidades consumidoras tenham um medidor inteligente. O país já está no segundo roll-out desses equipamentos, que são de responsabilidade da Distribuidora, permitindo que dados granulares de consumo sejam usados de forma estratégica por empresas, reguladores e consumidores.
Inovação com propósito: VTT e Aalto University
Do lado da inovação, a visita ao VTT (Technical Research Centre of Finland) foi um dos pontos altos da missão. Com mais de 2.500 colaboradores, o VTT atua diretamente na transição entre pesquisa básica e aplicação de mercado — atuando no chamado “vale da morte” da inovação, onde muitas ideias promissoras acabam não se tornando produtos viáveis.
Essa atuação remete à recente transformação dos projetos de P&D no Brasil, que passaram a exigir maior maturidade das soluções desenvolvidas (os chamados TRLs). No VTT, as empresas apresentam seus desafios, e a organização atua para desenvolvê-los até níveis compatíveis com as necessidades do mercado.
Entre os projetos apresentados, destacaram-se ferramentas open source para o setor elétrico, iniciativas em energia solar com geração a partir do aproveitamento do reflexo da neve e o avanço em pesquisas sobre hidrogênio verde — que já gerou, inclusive, um curso de mestrado exclusivo na Aalto University.
A universidade, com sede em Vaasa, é referência em engenharia, economia e design na Finlândia e Europa, e reforçou a importância da formação multidisciplinar na resolução de desafios energéticos. A instituição já colaborou com universidades e empresas brasileiras e destacou o papel da academia como catalisadora de inovação.
Nord Pool: o mercado operando em tempo real
A visita ao escritório do Nord Pool, em Helsinque, foi essencial para entender como um mercado de energia pode funcionar de forma ágil, transparente e 100% digitalizada.
O Nord Pool opera os mercados intraday e day-ahead em 18 países europeus e é uma referência global. Os preços são definidos diariamente por algoritmos que consideram as capacidades de transmissão entre países e a oferta e demanda locais. Tudo isso é calculado diariamente em cerca de 20 minutos, com ampla divulgação dos resultados para todos os agentes quando os preços são definidos.
As transações são anônimas e centralizadas: os agentes não negociam diretamente entre si, mas sim com o próprio Nord Pool, que também intermedeia a liquidação financeira. Toda a operação é baseada em APIs abertas — permitindo que comercializadoras, geradoras e consumidores integrem seus sistemas, criem robôs de operação e acompanhem o mercado em tempo real.
Esse modelo demonstra que transparência, padronização e escalabilidade tecnológica são elementos-chave para a eficiência de mercados descentralizados. A presença de concorrentes no mercado europeu não impede o Nord Pool de manter seu protagonismo, justamente pela confiança que o ecossistema deposita na sua plataforma e operação.
Rede e dados como infraestrutura: o modelo Fingrid
Se a digitalização é parte importante do sucesso do mercado finlandês, a Fingrid é um dos agentes relevantes para operação do mercado. Além de ser operadora e detentora das linhas de transmissão do país, a organização também conta com uma empresa exclusivamente dedicada à operação dos dados, a Fingrid Datahub.
Pelo lado da operação, os níveis de estabilidade e confiabilidade da rede de transmissão impressionam. 99,99995% de disponibilidade, o que equivale a pouquíssimos minutos de interrupção ao ano. Isso só é possível graças à combinação de investimentos em infraestrutura, integração entre fontes, gestão eficiente da oferta e demanda e pontos de conexão com outros mercados, como a Suécia, Noruega e Estônia.
No que diz respeito à gestão de dados e digitalização, desde 2022 o Datahub atua como uma entidade separada da operadora de rede e é responsável por centralizar os dados de medição de todas as unidades consumidoras do país. A partir do consentimento do consumidor, comercializadoras podem acessar essas informações para oferecer propostas personalizadas.
Esse modelo de Open Energy permite que os dados estejam disponíveis e não fiquem limitados às distribuidoras, mas sejam utilizados para estimular a concorrência e empoderar o consumidor. O Datahub também lidera um comitê de tecnologia que envolve todos os agentes do setor — garantindo que decisões sobre ferramentas, padrões e evoluções tecnológicas sejam tomadas de forma colaborativa.
Energy Week: onde o presente e o futuro se encontram
A missão foi coroada pela participação na Energy Week, evento que reúne lideranças, empresas e pesquisadores da Europa para discutir o presente e o futuro do setor energético.
Em 2025, os temas centrais incluíram integração de renováveis, redes inteligentes, data centers e a relevante demanda por energia, hidrogênio verde, descarbonização e o papel crescente dos dados energéticos na tomada de decisão.
A Way2 acompanhou painéis estratégicos e trocou experiências com representantes de diversos países, reforçando sua visão de que o futuro do setor elétrico passa por três grandes eixos:
- Digitalização radical – com dados confiáveis, abertos e acessíveis.
- Mercados dinâmicos – operando com alta frequência e integração regional.
- Protagonismo do consumidor – empoderado por tecnologia e informação.
O que a Finlândia pode nos ensinar?
A visita à Finlândia mostrou que não se trata apenas de ter tecnologia avançada, mas de criar um ambiente regulatório, cultural e institucional que favoreça a inovação e a eficiência.
Enquanto o Brasil caminha para uma abertura total do mercado, as experiências finlandesas servem de inspiração para debates urgentes:
- Como organizar os dados do setor de forma aberta e segura?
- Como garantir que a digitalização beneficie o consumidor final?
- Qual o papel das empresas de tecnologia na construção de um mercado energético mais competitivo e sustentável?
A Way2 volta da missão com essas perguntas na bagagem — e com a certeza de que temos muito a contribuir nessa transformação.
A missão na Finlândia reforçou a importância de dados, digitalização e protagonismo para um setor elétrico mais eficiente. Se você quer entender como a Way2 pode ajudar sua operação, fale com a nossa equipe e conheça nossas soluções.