Por Pedro Thomaz, Product Manager na Way2 | 12 agosto, 2020 | 0 Comentário(s)
Geração Distribuída de Energia: investir ou alugar?
O modelo de aluguel de Geração Distribuída de Energia possui a desvantagem de reduzir os ganhos do consumidor pois o mesmo assume todo o risco envolvido na estrutura da usina. Já o investimento em um modelo de Geração Distribuída é indicado para quem deseja ter ganho superior ao proporcionado pelo aluguel e pode construir sua própria usina.
Atualmente a Geração Distribuída, também conhecida como GD, é mais do que uma realidade para quem deseja, além de obter uma redução significativa em custos com energia, promover uma fonte sustentável de geração, blindando o consumidor dos fortes reajustes tarifários que vem pesando cada vez mais nos negócios.
Porém, este crescimento expressivo nem sempre foi uma realidade no mundo da GD. Durante alguns anos após a publicação pela ANEEL da Resolução Normativa 482 (marco regulatório da modalidade), a Geração Distribuída apresentou um crescimento bem aquém do esperado, atingindo ao fim de 2017 discretos 270 MW de capacidade instalada, o que representa menos de 0,5% do capacidade de geração instalada do país.
Dentre os principais fatores que explicam este atraso no crescimento, pode-se citar especialmente o elevado custo de instalação de um sistema de Geração Distribuída. Mesmo com a grande redução nos últimos anos, para que um consumidor residencial suprisse uma necessidade energética mensal média de 500 kWh, seria necessário um investimento de aproximadamente 25 mil reais, valor consideravelmente alto, principalmente levando em conta a realidade socioeconômica do país. Mesmo após a revisão publicada pela RN 687/2015, que criou diversos estímulos à aderência da Geração Distribuída, como o aumento da faixa de potência máxima de 1 MW para 5 MW e também a possibilidade de criação do sistema de Geração Compartilhada de Energia via consórcios e cooperativas, os investimentos prosseguiram bem abaixo das expectativas.
Histórico do comportamento da Geração Distribuída de Energia no Brasil
Ao início de sua vigência, em março de 2016, o país vivenciava um cenário macroeconômico com uma inflação na casa dos dois dígitos e consequente elevada taxa básica de juros, no patamar de 14,25% ao ano. Dessa forma, até para aqueles com maior poder aquisitivo, o investimento em Geração Distribuída não se mostrava atrativo, especialmente diante da possibilidade de se alcançar ganhos similares apenas deixando o capital rendendo de forma segura.
Além disso, a política monetária de juros altos inviabilizou a execução de projetos via empréstimos bancários, que apresentavam discretos incentivos para financiamento no setor. Porém, ao longo dos últimos três anos, esse cenário acabou sofrendo uma grande reviravolta. A capacidade instalada em GD atingiu a marca de 3.400 MW no início de 2020, representado uma verdadeira disrupção no setor. Apenas no ano de 2019 foram acrescentados 1.540 MW no sistema, um montante 255% acima daquela instalada no ano anterior.
O que justifica esse crescimento tão repentino da Geração Distribuída?
A conjuntura monetária acabou atravancando um enorme potencial decorrente da nova resolução normativa: o autoconsumo remoto e a geração compartilhada. Isso, aliado ao elevado potencial da geração de energia proveniente de fontes renováveis e os incentivos governamentais representados por um modelo de compensação de créditos de energia.
Foi a partir de então que surgiu um novo conceito aplicado à GD: o aluguel do sistema. A partir disso, com uma nova tendência global de investidores procurando setores mais produtivos da economia, é que surgiram aqueles dispostos a assumir os custos relacionados aos investimentos em Geração Distribuída.
Surge uma opção muito mais atrativa àqueles consumidores (residenciais ou comerciais) que não possuíam interesse em investir em um setor até então desconhecido, fazendo com o que o consumidor remunerasse o gerador com uma taxa de aluguel mensal muitas vezes proporcional à economia obtida em sua fatura de energia.
Com isso, o consumidor passa a acompanhar seu ganho mensal antes de desembolsar qualquer quantia relacionada à geração, vencendo qualquer tipo de desconfiança que muitas vezes dificultaria sua adesão à modalidade.
Quem pôde aderir às modalidades de Geração Distribuída?
Em um primeiro momento, o principal setor a adotar esse novo modelo foi o das redes empresariais com múltiplas unidades consumidoras, como unidades varejistas, agências bancárias, farmácias, postos de gasolina, sites de telecomunicações entre outros. Por possuírem um elevado consumo agregado por CNPJ, suas soluções de Geração Distribuída consistem na construção de usinas remotas e de porte considerável. Essas características tendem a derrubar o preço do MWh produzido, além de atrair investidores na hora de fechar um contrato, proporcionado um maior respaldo financeiro, considerando a solidez jurídico-econômica das instituições em questão.
Em uma segunda leva, vieram os pequenos comerciantes e residências, que através da modalidade de consórcio ou cooperativa, também puderam optar pelo modelo de aluguel de maneira bastante similar àquela praticada pelas grandes empresas.
Nesse modelo, também seriam mantidas as características da geração remota proporcionadas pelas usina de maior porte. Porém nesse caso, as garantias tanto de consumo, quanto de solidez institucional são menores, o que torna a gestão de unidades que entram e saem do rateio de geração um pouco mais complexa, visto que a rede de consumo é constituída muitas vezes por milhares de unidades representados por diferentes titulares.
Afinal, o modelo de aluguel de Geração Distribuída é melhor do que o de compra?
Apesar de ter sido diretamente responsável pela franca expansão da Geração Distribuída, o modelo de aluguel também possui desvantagens, como por exemplo o de reduzir significativamente os ganhos do consumidor. Como é o proprietário da usina que assume todo o ônus de sua construção, operação e até do risco regulatório envolvido (pois as Resoluções do setor são passíveis de revisões), é justo e empírico que os consumidores retenham uma parcela menor do ganho, quando comparados aos ganhos do gerador.
Contudo, é possível que muitos consumidores que já adotaram a prática de aluguel de usinas, e que se encontram satisfeitos com a economia no modelo de Geração Distribuída, se aventurem em construir suas próprias usinas, de maneira a ter um ganho muito superior àquele proporcionado pelo aluguel.
Portanto, o modelo ideal é aquele que está de acordo com o atual momento do consumidor e o quanto ele está disposto a investir, economizar e ganhar. A adesão ao aluguel pode ser uma opção mais adequada para os que procuram mais segurança e praticidade, seja pela aversão ao risco ou simplesmente por um posicionamento estratégico da empresa.
Para aqueles com uma maior experiência no setor e que almejam ganhos mais impactantes, pode-se optar pela compra do sistema, preferencialmente contratando empresas com expertise no setor.